O Inatingível

 

Eu tenho ouvido de muitas pessoas frases assim: não vou conseguir… eu não sei fazer… eu não consigo. Pois é, toda vez que eu ouço alguém dizer que não consegue, ou eu mesma me vejo em situações em que acho que não vai dar certo, eu lembro do armário do meu quarto de quando eu era criança. Vou contar essa história pra você.

Eu morava numa casa pequena de dois dormitórios. No quarto onde eu e minha irmã dormíamos havia um armário grande, desses que não são embutidos.

Na parte de cima do armário a minha mãe guardava um monte de coisas, especialmente aquelas que ela não queria que a minha irmã e eu mexêssemos. Lá em cima morava muita coisa legal: caixa de chocolate – ela liberava um por noite, e só. Chicletes – só nos finais de semana e brinquedos, aqueles que devem ser usados com mais cuidado. Eu nunca entendi porque um brinquedo não pode ser usado por uma criança na hora que ela quiser e como ela quiser, mas… eram as regras da casa e como a mão da minha mãe era bem maior do que a minha, as regras eram para ser seguidas sem questionamento.

Enfim, “em cima do guarda-roupa” estava tudo o que era proibido e era tão alto que se tornava a mim, inatingível.

Por muitas vezes tentei escalar o caminho do proibido, sem sucesso. Tentei também utilizar cadeiras, entre outros objetos que pudessem fazer-me, maior. Novamente sem sucesso. Demorava tanto para que eu pudesse carregar uma cadeira até o quarto, dispô-la em local apropriado para alcançar o inatingível que, quando enfim conseguia, alguém me pegava no pulo da arte.

E o armário continuava lá, na parte debaixo com espaço reservado às minhas coisas, mas a parte de cima…impossível de ser alcançada.

O tempo passou – lentamente em alguns momentos, rápido demais em outros,  e eu cresci. Meus olhos alcançaram muito mais longe que em cima do guarda-roupa. Meus objetivos também ficaram mais longe. Entrei na faculdade, fui morar com a minha avó e tinha o hábito de ir na casa de minha mãe todos os domingos. Num deles, a mamãe me pediu para pegar alguma coisa em cima do guarda-roupa. Fui até o quarto e alcancei o objeto solicitado pela minha mãe com facilidade, entreguei a ela e me dei conta: Como agora era fácil chegar às coisas em cima do guarda-roupa… Voltei ao quarto e aproveitei mais daquele momento. Peguei uma cadeira, subi e mexi em tudo que tinha em cima do armário. Fiquei horas trepada por lá, sugando minha curiosidade de infância. Não tinha nada de muito interessante. Nada que eu não pudesse pegar – agora adulta, mas a história do ‘em cima do guarda-roupa’ me fez ver vários ensinamentos contidos :

  1. O que está fora do nosso alcance parece ter um sabor muito melhor do que o que temos nas mãos, mas nem sempre isto é verdade;
  2. Não adianta nada querer crescer mais rápido do que o tempo assim o permite, nem com a ajuda de uma cadeira;
  3. Escalar o tempo, como tentei escalar o armário também não adianta;
  4. Mas o mais importante é entender que tudo o que pensamos que é inatingível, pode estar em nossas mãos dali a pouco. O impossível não existe para aqueles que crescem e agora não estou falando em tamanho, mas interiormente.

Desta forma, toda vez que em minha vida eu me deparo com algo que me parece impossível, mais que bater de frente, querer na marra, analiso o que é necessário para eu alcançar meu objetivo. Lembro-me do guarda-roupa e tudo parece bem mais fácil!

Aproveite essa história e lembre-se dela quando as coisas lhe parecerem impossível.