O movimento do tempo faz com que a gente perceba que tudo é mutável. A moda, os costumes e até a linguagem vão se transformando, como se os sabores da vida tivessem de ser testados ao longo dos anos.
Nas décadas de 60, 70, os jovens lutavam para garantir a sua individualidade. ‘Ninguém vai saber da minha vida’, era o brado forte que se ouvia. Vai falar isso hoje? Foto, vídeo – tudo o que você faz pode ser documentado. Privacidade???? O que é isso, companheiro?
Outro fato que me chama a atenção nesses novos tempos é o contra-senso que se deu na diferença de idade, hoje em dia vivemos um estranho fenômeno: os velhos estão mais jovens, enquanto as crianças ficaram mais adultas.
O avanço da ciência fez aumentar a expectativa de vida, 50 anos pode ser considerado um jovem adulto, de 60 a 75, um adulto. A palavra idoso não combina mais. Idoso é quem tem idade, portanto eu poderia entender que após fazer um ano, todos são idosos, porque tem idade…
Lingüística à parte, as crianças também estão estranhas, tão adultas!… Cadê a ‘amarelinha’, ‘escravos de jó’? Que nada, elas estão nas páginas de conteúdo dos mais diversos sites (que medo…), sabem tudo, discutem de igual para igual… Você já reparou como as crianças de hoje parecem mais sérias? Estressadas? Cheias de compromissos e horários?
E lá está o mais velho, feliz, sem stress, sem pressa e com tempo para ver o caminho que a joaninha vai escolher no jardim. De repente ele se depara com a criança adulta e pode mostrar a ela essa mágica do tempo. E quando a criança comenta algo moderno que descobriu nas páginas da internet, o velho jovem surpreende mais uma vez, porque ele também domina a máquina, mas com mais experiência, entende melhor o significado de tudo.
Agora você deve se perguntar: mas cadê o pai dessas crianças? Eles estão tão ocupados!… Imagine você que há uma vaga para se almejar na empresa, um novo colega de trabalho que tenta tomar o lugar do outro, tem conta pra pagar, diarista para ajustar na casa, supermercado para fazer, um curso para melhorar o currículo…
São tantas as preocupações dos pais que acabam ficando no meio da criança adulta e do jovem velho, sem se dar conta do que acontece entre eles.
E o que tem acontecido pode ser a grande salvação da família: os mais velhos muito próximos dos mais novos. A troca de experiência e o tempo que eles têm faz com que a relação tenha um ambiente de afeto e responsabilidade muito maior. A obrigação de educar dá lugar a ação de amar. Afinal, é indiscutível que a maturidade faz com que se ame com maior qualidade, sinta a vida de forma mais leve e consiga transmitir a certeza de que podemos ultrapassar os problemas que surgem em nossos caminhos.
Minha vivência com a minha avó foi exatamente assim. Ela me emprestou sua experiência e eu emprestei a ela minha juventude. Juntas nós fizemos uma parceira de vida deliciosa. Para todas as minhas dúvidas, ela tinha uma história pra contar e depois o seu colo, e também o seu carinho. Foram tantos os momentos, tantas as histórias que acabo de escrever o livro “Histórias que podem mudar sua vida”, onde reúno, a cada capítulo, um momento de aprendizado que guardei no coração.
Especialmente hoje, mais do que em qualquer outro dia, lembro-me dela com saudade, afinal é no dia 26 de julho que se comemora o Dia dos Avós, uma homenagem da igreja católica à Santa Ana e São Joaquim, avós de Jesus. A data provoca uma lembrança, como gosto de saudade boa, do bolinho de chuva, do café novo e de muitas conversas.
E eu lhe convido a essa reflexão do tempo e da importância da família. Uma reflexão que não nasce no pensamento, mas no coração, nas lembranças da infância, do medo de crescer e da alegria a cada aprendizado. Eu lhe convido para viver um pouco mais as suas recordações e encontrar nelas e encontrar nelas o que há de especial na sua ancestralidade, na sua história.
Não importa em que ponta da vida você está, se mais novo, se mais velho… importante é tentar essa troca de experiências. Acredite, você vai se surpreender! Pega o telefone agora! Liga. Se você é o avô ou a avó da história, aproveite hoje para falar com seus netos. Se você está na posição de neto, ligue para os seus avós, melhor ainda, vá visitá-los, dê um beijo especial nessas figuras tão boas da nossa vida.
* Ellen Dastry é jornalista, radialista e pós graduada em comunicação e marketing, palestrante e autora do livro “Histórias que podem mudar sua vida”.
Email da autora: ellendastry@terra.com.br
Publicado no Portal da Família em 07/07/2009