Resolver problemas, de uma forma ou de outra, é coisa que aprendemos, mas quando o problema é grande, daqueles que você não sabe nem por onde começar a pensar, a coisa complica, mas… tem solução. O difícil mesmo é aceitarmos os efeitos colaterais que vem junto com a solução.
Foi numa manhã de domingo quando uma reunião de família anunciava um grande problema. Um primo havia se envolvido com drogas e ninguém sabia o que fazer. Ele, como a maioria dos drogados, acreditava que podia sair dessa sozinho, achava um exagero o que a família fazia e se sentia abandonado por todos.
Meus tios tentavam, cada um a seu modo, lidar com a dura realidade que se colocava à frente, mas a situação não andava e, mais grave ainda, parecia piorar dia a dia.
A ala jovem da família, onde eu me incluía naquela época ficou responsável por apoiar e se aproximar do meu primo. E os adultos… eles não sabiam o que fazer. Era a primeira vez que eu assistia a essa cena – adultos sentados, sem saber como agir. Hora de a vovó entrar em ação.
Ela começou dividindo o problema em partes. – Vamos começar o assunto falando sobre a culpa. Pai e mãe não são os culpados pelos erros dos filhos, os pais podem errar e não querer ver o problema do filho e, dessa forma adiar uma solução, mas é só.
Foi a primeira vez que entendi como o seu problema afeta a vida de todos os que o amam. A vovó falava sobre a culpa que meus tios sentiam e eles concordavam, aliás, um culpava o outro. Eles se desuniam e se martirizavam. Depois de muita conversa com eles a vovó pode passar para o segundo ponto a ser discutido. – Quem deve tomar a atitude do enfrentamento? Você está com medo de seu filho não gostar mais de você? Pára com isso. Não é o melhor momento para vocês disputarem o amor do menino. Agora é hora de vocês assumirem as responsabilidades de serem pai e mãe e tomarem as decisões mais acertadas, independente do quanto isso afetará a relação de vocês com o garoto.
E a conversa continuou nesse sentido, da dificuldade de ser a voz do ‘basta’, de ser a mão de quem dá o limite, o olhar que nega. Difícil também educar, ser pai e mãe e não querer errar. Por fim a vovó falou sobre a importância da atitude e para explicar sobre o tamanho do peso ela usou uma analogia que nunca mais esqueci.
– Infelizmente não se cura o câncer com aspirina. Quando temos um tumor é necessário fazer uso de tratamentos fortes como a quimioterapia, por exemplo, e ninguém sai ileso desse tratamento. Assim são os grandes problemas que temos de enfrentar: grandes males, grandes remédios e preparado para assumir todas as seqüelas, as contra-indicações. Então… vamos lá, coragem para olhar o problema de frente. As companhias dificultam que o nosso menino saia dessa? Mude de cidade, de estado, de país se preciso for. É preciso estar mais perto dele para fazer valer os ‘nãos’ que serão impostos? Um dos dois tem de parar de trabalhar por um tempo. Faça. Lembre-se sempre: grandes males, grandes remédios.
A conversa continuava e cada uma das soluções trazia consigo uma marca forte na vida dos pais e a minha avó os encorajava a pensar olhando o problema de frente e sabendo que por mais difícil que pareça, as perdas ainda são pequenas se considerarmos a cura, a solução de um problema tão grave. Sem culpa, sem medo de perder o amor do filho e acreditando que juntos ultrapassariam aquele momento, todos ficaram mais forte, mas unidos e tomaram decisões acertadas.