Amor é atitude

 

A vovó tinha um jeito próprio de ser amável e carinhosa, e não era com beijinhos e abraços. Ela não gostava muito de desse pega-pega e as declarações de amor não eram seu forte. Seu modo de se declarar era diferente: um bolo especial, o conserto de uma roupa, um botão preso novamente ao casaco, uma comidinha feita na hora e, sobretudo, muita atenção.

Acho que não tive a oportunidade de falar sobre as mãos da vovó. Eram mãos grandes e fortes. A vovó tinha uma força danada, de quem trabalhou duro uma vida inteira. As unhas da vovó eram bem cortadas, mas com um formato grande, meio quadrado. As mãos da minha avó chamavam muito a atenção. Eu não sei bem se pelo formato, mas delas saíam tantas coisas incríveis.

De uma forma muito especial, a vovó fazia valer as duas palmas e os dez dedos de suas mãos: cozinhava, bordava, cozia, pintava, consertava coisas – todas as coisas – lavava, passava, escrevia, telefonava e… às vezes, acariciava, meio sem jeito, o meu cabelo revoltado, mas logo parava. Preferia usar suas mãos para me trazer um café.

Um dia comentei com ela sobre esse jeito de não falar o quanto ama o outro e ela aproveitou o momento para me dizer sobre o valor das atitudes.

– Um grande pensador só ficou conhecido no mundo porque tomou a atitude de escrever seus pensamentos. A vida é feita de atitudes. São elas que fazem você colar uma série de imagens, boas imagens, na sua história.

Olha só o corpo humano. O coração está no peito e guarda os seus sentimentos, mas são os braços e as pernas que te permitem as ações do seu cotidiano. As mãos fazem, as pernas correm para alcançar o seu objetivo, mas tudo que lhe impulsiona está no coração.

O que tem de especial nisso? É que você não deve deixar distante do seu coração às suas atitudes, a distância máxima é um braço ou uma perna, e só isso. Aja da forma que sente, faça com que suas atitudes tenham a força do amor.

A partir daquele dia olhei para as minhas mãos e pés de forma diferente, enxergava neles a oportunidade de, com amor, fazer a diferença.

A vovó me dizia “eu amo você” quando me servia seu nhoque, que demorava horas para fazer e eu comia em 5 minutos. A roupa que ela costurava para mim era uma declaração de amor tão forte que eu ficava mais bonita. Tem o café fresquinho, a cama arrumada, a roupa lavada e sua disposição de me esperar acordada todas as noites para ouvir o que tinha para contar naquele dia.

As mãos da minha avó moram nas minhas lembranças e no meu coração.  E o que mais sinto falta é de seu afago, de seu abraço, de seu aperto de mão. Se foram poucos durante a vida, garanto que foram suficientes para eu nunca me sentir sozinha e sem um apoio.

Comecei a agir mais como quem ama, com a vovó e com todas as outras pessoas que habitam em meu coração. Hoje eu posso até economizar palavras, mas procuro não economizar atitudes.

Tenho dois exemplos que aconteceram a pouco tempo e com duas das minhas afilhadas, nem preciso dizer que as amo demais da conta.

Uma estava para se casar, ela me deu a oportunidade de fazer a decoração do seu casamento. Foram meses de preparação, pesquisa de ideias, testes em casa… participar tão ativamente desse momento foi especial demais, porque pude colocar amor em cada ação e demonstrar meu amor no resultado final.

A outra montou seu primeiro apartamento e estava indo morar sozinha, mas não tinha experiência em montar um armário com suas roupas e acessórios. Pronto mais uma oportunidade de colocar todo meu amor pra fora. Passei três dias montando e remontando, cuidando de cada peça do seu dia a dia, ajeitando tudo para ficar prático e arrumado. Ela amou o resultado e eu amei ter tido a oportunidade de demonstrar o quanto ela é importante para mim.

Demonstrar amor em atitudes é tão bom e nos enche de mais amor ainda, eu garanto!